A forma como cuidamos dos entes queridos após a morte diz muito sobre nossa fé, nossa memória e nosso desejo de manter viva a presença daqueles que partiram. Nos últimos anos, a cremação ganhou espaço no Brasil e no mundo por motivos práticos, econômicos e ambientais. Para as comunidades católicas, essa realidade trouxe o desafio (e a oportunidade) de encontrar respostas que respeitem tanto a fé cristã quanto às necessidades das famílias. Neste texto, exploramos por que os cinerários (ou columbários) nas igrejas podem ser uma solução pastoral, litúrgica e comunitária para acolher a memória dos fiéis.
Entre tradição e transformação: postura da Igreja
Historicamente, o sepultamento foi a prática preferida da Igreja, expressão concreta da esperança na ressurreição do corpo. Ainda assim, a Igreja não se opõe à cremação quando esta não decorre de motivações contrárias à fé. Diante do aumento da cremação, a Igreja consolidou normas pastorais que sublinham o respeito devido às cinzas: elas devem ser preservadas com dignidade, preferencialmente em um local sagrado (cemitérios ou espaços próprios) e não devem ser espalhadas, divididas ou transformadas em lembranças.
O que é um cinerário/columbário e por que fazê‑lo na igreja?
Um cinerário ou columbário é uma estrutura com nichos pensada para abrigar urnas contendo as cinzas dos fiéis. Pode assumir formas diversas, como paredes com nichos no interior da igreja, capelas laterais adaptadas, galerias climatizadas ou jardins de oração com nichos externos. Colocar um columbário junto à comunidade paroquial significa oferecer um lugar público e sagrado de memória: um ponto onde oração, saudade e liturgia se encontram.
As razões para que uma paróquia ou igreja considere um cinerário incluem:
- Espiritualidade e memória: oferece um local fixo para oração, missa pelos que já partiram e recordação comunitária.
- Pastoral: permite que a comunidade acompanhe e integre as famílias enlutadas, mantendo viva a conexão entre vivos e mortos.
- Praticidade: responde à crescente demanda por cremação, oferecendo às famílias uma alternativa digna e canonicamente adequada.
- Sustentabilidade financeira e social: pode gerar receitas destinadas à manutenção da igreja e de projetos pastorais, sem transformar o tema em mercadoria.
Projeto e design: respeitando o sagrado
O projeto de um cinerário na igreja deve passar pela sensibilidade litúrgica e estética. Algumas diretrizes práticas:
- Integração litúrgica: o cinerário deve dialogar com a arquitetura e o sentimento do espaço sagrado — preferencialmente em áreas de fácil acesso e que permitam momentos de oração (ex.: átrio, nártex, capela lateral ou jardim contemplativo).
- Materiais e conservação: escolha de materiais duráveis e sóbrios, proteção contra umidade e controle ambiental quando necessário.
- Uniformidade visual: preserva o tom de reverência.
- Privacidade e acessibilidade: áreas para acolhimento das famílias, cadeiras ou bancos próximos e sinalização clara.
- Iluminação e simbolismo: luz suave, cruzes, imagens marianas ou iconografia que favoreçam a oração e a reflexão.
Aspectos litúrgicos, canônicos e pastorais
A implantação de um cinerário exige diálogo com a autoridade eclesiástica local. É preciso observar normas litúrgicas para as exéquias e ritos de encomendação, bem como as orientações sobre a destinação das cinzas. Alguns pontos essenciais:
- Autorização e dedicação: a conservação de cinzas em igreja ou espaço paroquial deve ser prevista e, quando necessário, formalmente dedicada pela autoridade competente.
- Ritos apropriados: as exéquias, a bênção das cinzas e possíveis atos de introdução do nicho devem seguir os ritos aprovados pela Igreja.
- Proibição de práticas inadequadas: não é permitido espalhar cinzas, transformá‑las em lembranças ou dividir urnas entre vários familiares.
- Atenção pastoral: a paróquia deve oferecer acompanhamento às famílias, momentos de memória (missas, orações) e orientações claras sobre procedimentos.
Benefícios para a comunidade e para a própria igreja
Quando bem concebido, um cinerário torna‑se um recurso pastoral que reforça a missão da igreja:
- Lugar de encontro com a história familiar: facilita a visita, a oração e o culto da memória dentro da própria comunidade religiosa.
- Maior presença e cuidado pastoral: a paróquia mantém um papel ativo na vida espiritual das famílias enlutadas, promovendo missas de lembrança e oportunidades de oração comunitária.
- Sustentabilidade: receitas provenientes da implantação e manutenção do columbário podem ser destinadas a ações sociais, manutenção do templo e preservação do patrimônio.
- Respeito ao planeta: a cremação, em muitos contextos, reduz o uso de terras e insumos comparado ao sepultamento tradicional — um ponto relevante em centros urbanos com espaço limitado.
Passo a passo para uma implementação responsável
- Diálogo inicial: conversar com o pároco, o conselho econômico e a autoridade diocesana.
- Estudo de viabilidade: avaliar espaço, custos, demanda local e impacto arquitetônico.
- Projeto arquitetônico e litúrgico: contratar profissionais que entendam do ambiente sacro e das normas eclesiásticas.
- Normas e políticas: elaborar regulamento (quem pode utilizar, critérios, custos, manutenção, placa, registro de urnas, respeito às normas canônicas).
- Aprovação e dedicação: obter autorização e, se necessário, dedicar o espaço à função sagrada.
- Comunicação pastoral: informar a comunidade, oferecer esclarecimentos e preparar acolhimento às famílias.
- Manutenção e memória: criar um calendário de celebrações e um plano de conservação física do espaço.
Exemplos práticos
Em diversas dioceses pelo mundo, columbários paroquiais têm sido instalados com sensibilidade pastoral: desde paredes de nichos no interior de igrejas até jardins de oração com nichos externos, sempre com a preocupação de criar um ambiente que convide à oração e à memória. No Brasil, a proposta de instalação de columbários em paróquias tem sido debatida em assembleias episcopais como resposta pastoral à crescente demanda por cremação.
Lugar de oração, memória e esperança
Cuidar dos restos mortais com dignidade é um gesto de fé. Um cinerário bem planejado em uma igreja não reduz a morte a um serviço prático: ele cria um lugar de oração, memória e esperança — um ponto de encontro entre gerações e uma extensão do cuidado pastoral da comunidade.
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